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terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Doidas e Santas

Doidas e Santas - Martha Medeiros

Mais um livro que li no final do ano que passou. Simplesmente é um show de cultura, variedades, humor.

O livro reúne várias crônicas da autora. Ótimo. Esse eu indico.Tem para todo o tipo de gosto.

Já falei que um dos meus estilos que mais aprecio ler são as crônicas? Entre tantas crônicas fantásticas eu escolhi apenas uma para dar uma amostrinha do que eu li no livro.

Lúcifer e os Lúcidos

"Lúcido deve ser parente de Lúcifer
a faculdade de ver deve ser coisa do demônio
lucidez custa os olhos da cara."

Estou embriagada pelos novos poemas de Viviane Mosé. Esta é só uma palhinha de Pensamento chão, um livro essencial nesses tempos em que já sabemos que certos políticos nunca circulam de Rolex por aí, já sabemos que o verão vai ser sufocante e só nos resta olhar um pouco para dentro de nós, o único lugar onde ainda encontramos alguma novidade.

Essa visão inusitada que Viviane nos oferece sobre lucidez, por exemplo, é um convite para a reflexão. Em tempos insanos, de tanta gente maluca por vaidade, maluca por juventude, maluca por dinheiro, maluca por poder, os lúcidos destacam-se pela raridade. São aqueles que não inventam personagens de si mesmos, não se trapaceiam, não criam fantasias, ao contrário: se comprometem com a verdade. E se envolver assim com a transparência dos fatos requer uma integridade diabólica. Para olhar o bicho nos olhos é preciso ser bicho também. Enfrentar a verdade é quase um ato de selvageria.

Mas que verdade é essa, afinal? É aí que o demônio apresenta sua conta, pois o lúcido, tem que se confrontar com uma verdade desestabilizadora: a de que não existe verdade absoluta. Nossos pensamentos não estacionam, nossos desejos variam, o certo e o errado flertam um com o outro, não há permanência, tudo é provisório, e buscar um porto seguro é antecipar o fim: a única segurança está na morte, será ela nosso único endereço definitivo. Durante o percurso da vida, tudo é movimento, surpresa e sorte.

O lúcido faz parte do time - cada vez mais desfalcado- dos que se desesperam como todo mundo, porém de um modo mais íntimo e refinado. O lúcido organiza sua loucura, acondiciona o que está solto no ar, interliga várias ideias independentes para que, agarradas umas nas outras, não se dispersem, estejam ao alcance da mente. Quanto mais o lúcido pensa, mais percebe que a lucidez plena não existe, o que existe são suposições, algumas até coerentes, e que nos mantêm no eixo. Lúcido é aquele que sabe que lucidez é uma falácia*, e não pira com isso. Recebe a conta das mãos do demônio, calcula os ganhos e os prejuízos, e paga. Custa sim, Viviane, os olhos da cara, esse vício de pensar e repensar, pensar e compensar, pensar, pensar pensar e morrer do mesmo jeito. Por isso achei tão interessante seu poema. Você matou a charada: Lúcifer é uma espécie de padroeiro dos lúcidos - e lúcido é só um outro nome para louco. O louco que tem a cabeça no lugar demais.

Martha Medeiros - 14 de outubro de 2007

*Falácia: Daquele que é falaz- enganador, fraudulento, ilusório.

Um comentário:

Ana Luísa disse...

Ei Lucí
=]
FELIZ 2010 pra vc querida
td de melhor pra vc viu??