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terça-feira, 10 de maio de 2011

"Amores que não deram certo IV"

O nome ele tinha de anjo e de anjo não tinha nada tanto assim. Um carinha calado que cruzou meu caminho naquela metade de ano. Não fazia o tipo que normalmente eu olharia, e se o conhecesse de outra forma não teria me cativado.

Atraves dele eu aprendi o que realmente era diferença entre olhar e registrar, que minhas amigas tanto falavam.

Todos os dias chegava cedo na sala de faculdade, as vezes sozinha, as vezes acompanhada, sentava no mesmo fundo de sala, naquele mesmo canto perto da janela, logo aparecia aquele carinha, instalava a Tv e o retroprojetor e saia. Sei lá, por quantos vezes, meses ele fazia aquilo, mas era alguém que todos os dias eu via, mas que eu nunca percebia.

Uma noite, terminei uma prova e sai da sala para esperar alguns amigos, sentei pro lado de fora da porta, já era tarde, ele sentou do meu lado e pela primeira vez falou comigo, esperava que saissem da sala para ele recolher os materiais. Perguntou meu nome, falou banalidades que não lembro.

Em casa, contanto para uma amiga, ela fez elogios a aparência dele,"o mino do retro? é muito gatinho!". e que por várias vezes pegou ele olhando para mim quando entrava na sala, coisa a qual eu nunca havia notado, na verdade eu nunca havia olhado pra ele.

Lembro o dia em que olhei realmente pra ele, e nesse dia além de olhar eu registrei. Sim, ele era bonito, ele era calmo, ele era educado, tinha a voz mais bonita que já ouvi e realmente olhava pra mim todos os dias que entrava na sala, mesmo que tivesse outras meninas, ele só não falava comigo.

Até que...

Era um fim de tarde de inverno, estava frio, lembro por que passava pelo corredor terreo onde o vento encanava, passando pela porta da sala de multimidia, estava ele e outro que também exercia a mesma função dele, quando passei pude ouvir ele dizendo ao outra "Nossa! Eu acho essa mina muito linda" e o outro afirmando "Nem é tudo isso!". Me revoltei mais com o comentário do outro e por impulso virei para trás e olhei bem para a cara dos dois e ali eu já não tinha mais duvidas o interesse existia da parte dele, e começava a despertar dentro de mim também.

Precisou duas festas uma do curso dele e outra do meu curso pra gente se entender. Bob Marley e o reggae nos embalou uma noite toda, ele gostava de dançar. Ele era tão diferente de mim naquela época.

Ele fazia direito, uma profissão convencional, mas surfava e tinha o corpo tatuado, eu fazia Design e era toda certinha. O que deu errado? Eu queria muito mais do que ele podia me oferecer, na verdade eu não sei o que deu de errado.

O pai dele era motorista de ônibus, alcoolatra. Ele morava só com o pai, a mae dele morava em uma cidade do interior de SC. Ele estudava pela manhã, era bolsista, a tarde trabalhava na biblioteca e a noite entregava e recolhia os aparelhos de multimidia e depois de sair da faculdade, era garçon no bar da frente e nos finais de semana fazia uns bicos no MAC, ele não tinha grana, só uma bicicleta verde e objetivos.

Eu não entendia onde ele achava forças e vontade pra fazer tudo o que ele fazia, mas ele sabia onde queria chegar. Passei a fazer umas disciplinas no curso de moda, so pra ir com ele pra faculdade, as vezes eu acordava e ele ja estava estudando a horas, mesmo na noite anterior ele ter trabalhado ate as 3 da manha.

Passo e moro perto daquele mesmo bar, que ele me fazia sentar em um cantinho pra esperar ele, conseguia umas batatas com a cozinheira, tinha musica ao vivo e ele sempre fazia o carinha tocar algumas dedicando a mim.

Ele morava muito longe da faculdade, mas nos finais de semana geralmente eu ia pra casa dele, mas a unica coisa que abalava ele, era o alcolismo do pai, que nao importava a hora, se o pai chegasse alcolizado, ele me trazia pra casa. Ainda lembro das madrugadas que atravessamos a orla, da Barra Norte a Sul, no varão da velha bicicleta, a gente não precisava de dinheiro pra ser feliz.

Essa semana ainda passei pela esquina da central, era bem ali que paravamos quando a gente ia para praia, e eu tinha a sensação que todos olhavam pra gente especialmente pra ele, os carros paravam e a gente atravessava e eu sempre sentia o mesmo, e aquilo me agoniava tanto. Enquanto ele surfava nos domingos bem cedo, eu lia na areia. Foi ele que me incentivou a voltar a ler, a maioria dos livros que li do Paulo Coelho, eu li na areia enquanto esperava por ele.

Esse ano ainda, no inicio, coloquei fora o ultimo brinco que ele me deu dos hippies da beira da praia, por anos guardei, mas não fazia mais sentido guardar uma lembrança dessas.

Um dia tudo sempre termina, e sim aquele final de ano eu precisava voltar pra minha cidade, não ouve brigas, não houve despedidas, ficaram muitas duvidas, antes de ir, perguntei pra ele como a gente ficava e ele disse que quando eu voltasse a gente voltava a conversar, talvez ele nao me entendeu que eu precisava ir, talvez eu nao o entendi, respostas que eu nunca terei. Ele nao me prometeu nada, eu queria mais, nem que fossem falsas promessas, doeu muito eu achar que ele estava me rejeitando. Quando eu voltei, ele veio falar comigo, mas eu ja estava magoada demais, ja tinha sofrido demais e acreditava ter encontrado uma pessoa que queria ter uma relação seria.

O tempo me mostrou que eu estava enganada e esse mesmo tempo passou, a gente amadureceu, ele cortou o cabelo, terminou a faculdade, já nao surfava, mas ainda acordava cedo pra tomar cafe  e ler, por ironia do destino quando casei ele morou uns meses na frente da minha casa, e por muitas vezes o vi sentando tomando café e olhando pra minha janela. Nunca mais nos falamos e as duvidas que ele me deixou, ele levou as respostas e perdeu nas curvas de uma estrada.

"Onde você está? Céu, inferno ou paraiso? Eu sei que anjos vão para o céu!".


"Me disseram que você

Anda um pouco distraída
Ouvindo Bob Marley
Na beira do mar"

Um comentário:

Marcia Almeida disse...

Nossa , que história linda! Não foi porque o final não foi feliz que deixou de ser linda!

Bjs
Marcia