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quinta-feira, 12 de novembro de 2020

Uma puxa outra, que puxa...

Aqueles insights e gatilhos que a nossa memória prega na gente, me presenteia com uma nostalgia gostosa. Nem tudo.

Veio em minha memoria, sem motivo aparente, o aniversário da minha professora do 2º ano (seria por que a Lígia também esta no segundo ano? Pode ser..). Eu gostava muito de fazer cartões, guardava embalagem de bombons da pascoa, papel laminado, papel de presente, para criar e decorar meus cartões. Fiz um pra ela, mostrei pra minha mãe e levei pra escola. Quando entrego para a professora ela diz: "- Lindo! Mas parabéns está escrito errado". Senti vergonha e me questionei por que minha mãe não me disse que estava errado. Hoje, como mãe, acredito que ela quis me poupar, já que eu tinha feito com tanto carinho, ela não imaginou que minha professora não faria o mesmo, o que eu também entendo, ela como educadora, tinha o papel de me ensinar. E no meio disso tudo, uma criança triste. Por isso prefiro eu mesma dizer as coisas a minha filha, o mundo não terá piedade dela.

Essa lembrança foi um gatilho para uma avalanche de lembranças e emoções, que estão ali escondidas e a gente nem sabe que lembra mais e que viveu tudo isso.

Essa professora, morava no caminho para escola, íamos em um grupo de meninas e passávamos em frente a casa dela, ela tinha uma filha pequena que sempre estava a janela e nos mostrava a língua, lógico que contamos e ela fez aquela de adulta que queria dar risada, mas que concordou que o comportamento da filha era inaceitável.

Quando eu já era pré-adolescente, meu pai comprou uma casa nova em outro bairro e por coincidência, a casa ao lado seria dela e estava em fase de construção, assim que ela se aposentou, eles foram morar lá. Ela, o marido, a menina e o filho mais velho que eu, uns 6 anos.

Ela me viu amadurecer. Sempre passava por ela, conversávamos. Eu gostava bastante dela, mais do que quando ela foi minha professora. O filho dela, era lindo. Ele não olhava para nos, éramos um grupo de meninas, que babava por ele, mas era um tudo umas pirralhas e ele já namorava a vizinha do outro lado, uma ruiva linda, de cabelos crespos e cheia de sardas (uma deusa aos nossos olhos).

Logo que iniciei o ensino médio, ela vaio a falecer. Foi muito rápido e inesperado. Começou a sentir umas dores na cabeça, foi internada no hospital, passou por cirurgia e não resistiu, foi um aneurisma. Ela meio que se tornou a "santa" dos meus estudos.

Lembro bem da noite que estava com dificuldades em química, do primeiro ano, já tinha pegado todos os livros que eu tinha em casa sobre o assunto, a professora era muito ruim, não tinha entendido a explicação, tentava resolver uns exercícios, eu teria prova no dia seguinte. Era um domingo a noite, eu escuta musica baixo, quando eu ouvi o barulho deles chegando de carro. Lembrei dela e pedi que ela me iluminasse, que me ajudasse a compreender e a fazer os exercícios. Uns diriam que foi coincidência, outros que foi persistência minha, só sei que foi como se os exercícios se iluminassem na minha frente e e eu consegui compreender para resolve-los. E toda vez que eu me encontrava dificuldades eu recorri a ela.  Até a entrada da faculdade e ai fui embora da cidade.

Nas minhas primeiras férias da faculdade, em dezembro, eu e uma amiga, estávamos decorando a frente da casa para natal. O filho dela H. chegou com um amigo de carro, o amigo era um velho conhecido meu, me viu.. veio conversar comigo e ele ficou da garagem olhando com cara de desprezo. Ele nos convidou para a festa que iam dar no barracão próximo a nossa casa, fazia tempo que não faziam mais as festas ali.

Nos fomos. Não iriamos perder. A musica boa, bebida livre. Era uma galera que unia os três bairros e os arregados, estava em casa, na minha área. O que eu mais lembro são as musicas, a gente sentava ate na grama pra cantar, muito rock gaúcho e coisas que hoje chamam de brega.

Esse dia me marcou com a "Menina Veneno". Eu fiquei com H. nessa noite. Eu tinha bebido um pouco, não o suficiente pra esquecer o que eu fiz. Ele tinha bebido o suficiente para se soltar e me carregar para o fundo de um velho palco sem ninguém ver. Segundo ele.. eu era só uma menina veneno..

No outro dia, quando acordei na casa dele, que era do outro lado da rua.. ele sutilmente sugeriu pedindo que eu não contasse a ninguém o que havia acontecido. Ele ainda era noivo da ruiva, ela estava viajando e também era muito amigo do meu ex e queria evitar qualquer problema com ambos, concordei e jamais contem a ninguém, nem as minhas próprias conhecidas, não tinha o interesse de prejudica-lo. Ele não se dizia arrependido, mas com o maior sorriso de cafajeste disse que "estava enrolando ela tempo demais para não casar".

Eles casaram. 

Ele tentou repetir a dose? Tentou..., mas ao contrário dele, eu jamais trairia a pessoa que eu amava e  todas as férias da faculdade eu pude ouvir ele lavando o carro ouvindo "Menina veneno" como provocação.

E a história que começou lá traz, com a lembrança de um cartão, termina assim. Uma lembrança, puxa outra, que puxa outra e acaba virando uma história.

Hoje já não sei deles, e bem provável que não os veja mais. Ele tem uma filha com a ruiva, a irmã hoje é mulher, medica. O pai se casou novamente e mora lá naquela casa, a nossa casa lá já foi vendida, as redes sociais estão ai, mas nunca fomos amigos, eu era amiga só dela. Saudades Prof. E!

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