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quinta-feira, 1 de abril de 2021

Procura-se por aí...

...pode ser que o encontre em alguma fila..

Parei o carro, um carro parou atrás. Desci, ele desceu em seguida. Andei em direção a fila e ele vinha logo atrás, ele parou... eu voltei e perguntei se ali era o final da fila, ele afirmou que sim. Ele ofereceu o lugar a sua frente que por direito seria meu, agradeci.. mas permaneci atrás dele.

Logo aparece minha mãe, disse que ela poderia esperar no carro, por que seriam umas três horas ainda de espera na fila, que eu ligaria quando ela pudesse ir e lá se foi ela com seu andar lento.

Ele fala comigo com sua revolta por fazerem isso com os idosos, pela primeira vez olhei para aqueles olhos verdes perfeitos, sorri por dentro, por que olhos assim são irresistíveis de se olhar? 

Rodeados pela terceira idade estávamos.  Resolvi sentar no chão, quando se trabalha com crianças acabamos adquirindo o habito de sentar em qualquer lugar, ele me acompanha, senta ao meu lado. Os senhores a volta caem na risada, "por que se eles sentassem assim, nunca mais levantariam.. e que devíamos agradecer a juventude", depois nos esqueceram e nós esquecemos os outros.

Era como se não houvesse mais ninguém ali, era só nos, sentados no chão. A conversa girou entre leituras, series, pandemia e coisas aleatórias. Não sentimos o passar do tempo, das quase três horas que ali ficamos. Até que.. a fila começou a andar, ele levanta e me oferece a mão pra me ajudar. Foi quando me senti pequena, sentados no chão era tudo meio igual, ali ..nós de pé. a nossa diferença de tamanho era nítida e a diferença certamente nos tornou atraentes um ao olhar do outro.

Ele liga para o pai, como se pudesse imaginar que eu queria ver o sorriso dele, ele abaixa a mascara e pude ver o rosto por completo, a perfeição. Ligo para minha mãe e já não ficamos mais sozinhos, recebemos senhas e cada um foi para um canto, aguardar a sua vez para que nossos pais recebessem a primeira dose da tão esperada vacina.

De longe, pude observar ele me olhando. Eu olhava por que ele era meu ponto de referencia, assim que ele fosse chamado, nos seriamos em seguida. Assim foi, enquanto ele filmava o pai dele sendo vacinado, ele escolheu um lado que certamente ia me registrar e tenho quase certeza que ele saiu com uma foto minha, logo foi a vez da minha mãe, saímos ao mesmo tempo... agora ele na minha frente com seu pai e eu logo atrás, chegamos aos carros... e uma ultima olhada e um tchau nos separou.

Não foi perguntado nomes, nada pessoal, não sei quem é, onde mora.. sei que é um homem bem alto, por volta dos 36 anos, bem queimado do sol, com uns olhos verdes que sorriem, cabelos pretos, inteligente, fala corretamente, educado, bom gosto, simpático, extrovertido, cheira muito bem, de voz agradável, com mãos bem grandes e que certamente sabe flertar com o perigo.

Tentei ser coerente, não ter atitudes confusas, tive medo de um interpretação errada, era bem isso, ambos estávamos com medo, ambos queríamos e ao mesmo tempo não queríamos levar para o pessoal, mas penso que essas coisas que o destino prega a gente tem que deixar o mesmo agir...

....e se for para rever o tal misterioso.. irei reencontra-lo em qualquer esquina. Ou na certeza da próxima dose de nossos pais, certamente nossos olhos vão procurar um pelo outro ..ou não! Quem sabe era só isso, uma boa conversa.. para uma boa lembrança...

Não lembro em outro momento da minha vida, ter tamanha afinidade com uma pessoa desconhecida ainda mais uma pessoa que não viu problema algum em sentar no chão com uma estranha.

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