O que a pessoa as 2h da madrugada estava pensando, não seria nem digno de registro #sqn.
Estava sem sono e nem posso dizer que rolava na cama, por que nem posso, por conta do braço, mas estava absorta em meus pensamentos na escuridão.
Pensava sobre idade e como eu me sinto mais bem hoje aos 41, do que aos 20 e nem é pela aparência, mas sim pela consciência de vida que tenho hoje, pelo amadurecimento interno.
Não que eu não queira mais a juventude, quem me dera ser aquela Lucí que implicava com olheiras e manchas do rosto que só ela via, mas eu queria aquela Lucí com a mulher que eu me transformei. Eu sei, é utopia, não é possivel, essa Lucí de hoje é uma sobrevivente, uma construção e desconstrução contínua.
Porque esses pensamentos apocalípticos para não me fazerem dormir? Não assisto muito a tv, mas sempre escuto. Agora toda essa polêmica sobre pais tóxicos por conta daquela atriz que esta na midia. Eu sou fruto de uma mãe tóxica.
Minha relação com minha mãe nunca foi das melhores, com o tempo não posso dizer que melhorou mas eu cresci e não permiti que ela fizesse o que fez a vida comigo e muito menos respingar na minha filha.
Ela pisou em qualquer autoestima que eu pudesse ter enquanto vivi com ela. Nunca fui o bastante. Nunca bonita, inteligente ou qualquer atributo que ela esperava de mim, pelo contrário fui a ovelha negra, a rebelde, que segundo eles "sempre fazia tudo para contrariar!".
Sinto muito mãe! Eu não fazia ou faço para contrariar! Eu era e sou eu mesma, que estava lutando para moldar minha personalidade dentro da caixa de sapato que você me oferecia.
Hoje olho e vejo o circo de horrores que ela fez da minha vida e mentiria se dissesse que ela não tenta ainda fazer. A lembrança mais cruel, ela com a fita métrica. Minha mãe era costureira, em uma cidade do interior, em um tempo que não havia comércio de roupas, somente tecidos.
Era ela, sua fita métrica e as espetadas de alfinete, porque "onde ja se viu!!??onde tu vai parar com essas medidas!! Toda vez que tiro, está maior!!". Desculpe mãe, eu era uma criança, e crianças crescem, eu era igual as outras, que a senhora tirava as medidas e sorria e não reclamava.
O terror da fita métrica me acompanhou. Ela fez todos os meus vestidos de fim de ano. E não era o fato de fazer um inferno, ela escolhia o modelo, a cor, segundo ea eu tinha mau gosto e "nada ia ficar bom em mim mesmo."
Era uma frustração interna dela, hoje eu sei. Eu não tinha a altura que ela sonhou, tenho mais curvas que qualquer costureira goste, por que ela queria um cabide, reto.. eu não sou, e rara das clientes dela eram, mas ela destilava o veneno todo em mim.
Lembro para minha festa de fim do ano da pré escola, eu tinha 6 anos. Minha mãe fez a roupa de todas as minhas colegas, na época estava na moda o modelo de saia "balone". Todas minhas colegas fizeram esse modelo. Minha mãe? Decidiu "não vai ficar bom para você". E quase não fomos a festa, por que ela não teve tempo de fazer o meu vestido, olho para as fotos e era um vestido bonitinho, verde bebe, de um resto de tecido que ela tinha em casa.
O drama da fita metrica, resultava no controle absoluto do que eu comia. Nada de pão, doces. O controle alimentar realmente não incomodava, por que comiamos muito bem, comiamos comida de verdade, mas eram os olhares, o julgamento. Ela não impedia, mas era sempre o comentário "por isso as medidas aumentam"! Isso da barriga! Se comer e ficar parada cresce a bunda.
E la ela ia me massacrando. Na minha última formatura da escola, ela me deixou escolher o modelo e o tecido, fui na loja escolhi o croqui, os tecidos e foram dois meses de humilhação. Cada medida tirada e prova de vestido ela me espetando e reclamando. "Ia ficar horrível!". No final ela modificou o vestido, deixou abaixo do joelho e ele havia um bolero de renda, que ela fez 1/4 de manga. O decote? Nem preciso mencionar que ela não fez. Era um desenho um vestido, decote coração, curto com um colete de renda.
Ja maior, haviam lojas, meu pai (outro tóxico, merece uma reflexão só para ele), todo fim de ano ele liberava dinheiro pra ela ir as compras. Eu odiava esses momentos, principalmente quando cresci, não podia escolher nada. NADA. E ja nos últimos anos que morei com ela, ela me permitia "escolher" mas nada ficava do lado do provador e tudo era feio, nada ficava bom.
Sabe mãe, apesar de tudo, eu te agradeço, ter me feito acreditar que eu era a mais feia de todas as minhas amigas, com seus comparativos diários, mas não, eu era igual a elas, a diferença é que você não tinha o direito de dizer isso a elas e sabe que nem a mim?!
Cresci buscando outros talentos, ja que eu era tão feia, ao ponto da minha própria mãe dizer isso. Então mãe, eu fui ser a inteligente. Ah! Isso a senhora também nunca reconheceu! Nem isso era o suficiente.
Eu fui me descobrir quando sai para o mundo, fui descobrir o que eu gostava de comer, ouvir, vestir. Eu tive que me reconstruir e aprender a viver. Descobri que eu não era nem um pouco feia, que tudo aquilo que ela tentava esconder e reclamar em mim, não era feio, era a opinião dela.
Sim mãe, eu me tornei uma mulher inteljgente, astuta e raçuda e sabe, devo agradecer a você, porque eu aprendi a lutar com quem devia nos amar, por que a "vida la fora ja é tão difícil!". Não, a vida "ai dentro foi dificil". O mundo me abraçou e me acolheu, com todas as minhas imperfeições perfeitas.
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