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segunda-feira, 7 de agosto de 2023

Agora ficou esclarecido, penso eu..

Em um passado muito remoto, desejei ser freira. Não pela vocação ao clero (que diga-se de passagem , descobri mais tarde não ter nenhuma), mas quando se nasce no interior, nos anos 80, o meu único passeio além da casa dos poucos familiares,  era a missa de domingo, ainda mais quando o irmão mais velho esta a fazer a catequese, era obrigatório. 

Tudo relacionado a igreja me fascinava, os eventos, musica a arte. Minha mãe, logo tratou de manipular meu interesse, "freiras não podem casar". E o meu sonho foi deixado de lado, por outra paixão ainda maior: casamentos, que mais tarde descobri que tinha muito mais a ver com meu amor pelo design de roupa do que a união de homem e mulher.

Vim de uma família católica, mãe praticante dentro de uma racionalidade aceitável para a geração dela e de um pai, nada católico, que não se colocava a favor nem contra. Simplesmente chegou a idade da catequese e la fui eu fazer, por que era assim, fazer por que tinha que ir, porque todos faziam. Eu já tinha 10, 11 anos e não queria ser mais freira e tão pouco sonhava me casar, mas fui obrigada a seguir por algum tempo, sem deixar de questionar, mesmo assim "ia por que tem que ir".

Onde eu quero chegar com esse relato. Faz tempo que percebi que Lígia estava incomodada pelo fato de alguns amigos fazerem catequese, acredito que bem mais por se sentir excluída do que pelo interesse religioso. Por tempos ouvi comentários dela sobre, me mantive em silêncio,  a questão que acredito que começaram a pressiona-la "porque você  não faz?" e ela por não ter ou  não saber uma resposta começou a se sentir incomoďada, mas em nenhum momento chegou a me questionar.

Ontem ďurante a janta, novamente apos comentários sobre a catequese da melhor amiga, resolvi iniciar uma conversa mais esclarecedora, que não fiz antes por que eu achei que ela entendia os motivos. Começamos contando a ela sobre a nossa experiência de catequese, o pai até coroinha na igreja foi, porém enfatizamos que não tivemos escolha, iamos e frequentavamos por que todos faziam e não por que gostavamos ou entendiamos, eramos crianças.

Ela olhava e ouvia bem interessada, expliquei que ela não fazia catequese porque primeiŕo, nós os pais não somos adeptos a nenhuma religião e segundo, ela é criança e não tem entendimento próprio sobre fé. 

E cheguei ao ponto que acredito que era o que estava a incomodando, os questionamentos dos amigos. "E quando os amigos te perguntarem o por que você não faz, diga a eles que seus pais optaram por te dar opção, de você ter direito a escolher a sua própria religião,  quando você tiver idade e maturidade para entender e seguir uma religião por fé e por que se identifica com ela, não por que teus pais estão te obrigando. A sua escolha sera respeitada por nós independentemente de qual seja.".

Senti nos olhos dela a satisfação com a ŕesposta, de se sentir amparada, mesmo o pai no fim dando uma derrapada. "Eu só acho que não deveria ir para a umb.....". Já nem deixei ele terminar e cortei o caminho.. "inclusive a umbanda, se você escolher, pois será uma escolha sua e nós vamos respeitar.

Sugeri a ela que pesquise sobre religiões para conhecer as opções e ver que existe bem mais no mundo do que a católica. 

Quando achei que o assunto estava encerrado e não seria minha filha se tivesse encerrado..

"Mas mãe por que você me obriga a estudar?"  La fui com outro discurso agora não mais sobre opção, mas sobre oportunidade. 

"Eu não te obrigo, eu te incentivo. Quando você vai a escola, você tem a oportunidade de aprender. Quando te coloquei na aula de música, você tem a oportunidade de aprender, o mesmo com o idiomas. A dança..Os livros, eu não te cobro, não te obrigo, te dou a oportunidade e te incentivo."

"O que você aprende na escola você irá levar pra vida. O que você aprende na igreja e nas religiões, você não depende a frequentar lugar nenhum para ter princípios éticos, você deve saber o que é certo, errado, sem precisar de religião para isso, é a base do caráter que te cobro".

Foi outra longa conversa sobre valores, mas eu sei o quanto foi importante para ela, pois ela parou para ouvir, com atenção e jamais deixou de questionar, sinal que estamos no caminho certo, não é porque somos pais que somos donos da verdade e ela tem o direito inclusive de nos questionar.

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